terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cotidiano

O despertador soou pontualmente as 6:00 horas da manhã e o marido levantou para mais um dia tipicamente cotidiano. Na ponta dos pés e ainda no escuro para não despertar a esposa que continuava dormindo ao lado, vai até o armário e pega seu terno. Apruma-se o mais rápido possível, pois sabe que nas sextas-feiras o trânsito até seu trabalho tende a ser mais caótico que o normal. Antes de descer até a garagem, passa na cozinha para tomar uma xícara de café amargo enquanto folheia o jornal matinal. Como de costume apenas fita as manchetes: no caderno econômico: “CPI irá investigar ato de improbidade administrativa”... “É sancionada lei que prevê aumento dos impostos cobrados sobre aposentadorias”; no político: “Senador indiciado por formação de quadrilha consegue Habeas Corpus”... “Gastos com campanhas políticas batem recorde no Brasil”. Resmunga em voz alta: - “sempre a mesma coisa, por isso o país não vai para frente”. Vai então direto para as páginas de esporte ciente que o show de horror havia terminado, mas suas expectativas foram frustradas novamente: “Camisa 9 é preso por envolvimento com o tráfico de drogas”, mais abaixo: “Briga em estádio envolvendo torcidas organizadas deixa dois mortos”. Cansado da hecatombe do jornal liga a televisão. O apresentador do noticiário anuncia os fatos ocorridos na última madrugada: “Achado recém-nascido em lixeira no centro da cidade”, “Motorista embriagado atropela idoso e foge sem prestar auxílio”, “Assalto em relojoaria acaba com três pessoas mortas”. Decide, então, mudar para o canal internacional: “Forças israelenses invadem Faixa de Gaza e deixam quinze civis mortos”, “Comandante condenado por crimes de guerra é extraditado para cumprir pena” “Grupo guerrilheiro toma embaixada, mata cinco funcionários e mantém diplomatas como reféns”. Por fim, desliga a televisão, pega sua maleta e olha para o relógio. Nesse momento a esposa levanta. Ainda de camisola vai em sua direção e diz: -”Bom dia amor”. Ele responde: -”Bom dia, sobrevivemos à noite passada”. Beija sua testa como se estivesse abençoando-a e sai em disparada, já estava atrasado. Da rua ela escuta uma voz distante: - “querida, não esquece de fechar bem todas as portas”. E assim começa mais uma dia normal em sua vida.

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