segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Brasília cor-de-caganeira

O tempo voa. Sempre escutei meus pais dizendo isso todo final de ano que passávamos na casa dos meus avós. Agora, aos 24 anos, sou eu quem repito o ritual. E o curioso é que cada ano passa mais rápido que o anterior. O ano passado se foi como um foguete, esse, como um meteoro. Por mais que se tente retardar o tempo, ele avança para todos, invariavelmente. Para vencermos a nostalgia do passado é que guardamos as lembranças. Nesse sentido, não há nada que se compare com as memórias da infância.
Lembro-me perfeitamente das viagens na Brasília cor-de-caganeira (era exatamente assim que chamávamos). Todo janeiro – isso era tão sagrado como fazer churrasco aos domingos – após passarmos o natal e o réveillon na casa dos meus avós no interior de Santa Catarina, íamos (conjuguei o verbo no plural porque meu padrinho também nos acompanhava) veranear em Itapema, no litoral do estado. Do extremo oeste, abeirando a fronteira com a Argentina, até o Oceano Atlântico, eram nove horas de viagem. Imaginem a odisseia para uma criança de dez anos.
Uma semana antes de chegar o dia, a euforia já havia tomado a casa. Os dias custavam mais a passar e tudo que deixávamos de fazer, sempre acabava com a desculpa que foi devido os preparativos da viagem. Esse momento era a realização familiar. Sair do interior e ver o mar, sentir a aguá salgada e a areia gelada era, indubitavelmente, as melhores férias que alguém poderia vislumbrar.
Na véspera, papai parafusava o bagageiro no teto da Brasília. Levávamos tudo que se possa imaginar: prancha de surf de isopor, cadeiras de sol, caixa térmica para cerveja, bola de futebol, etc. Era tanta bagagem que tínhamos, meu irmão e eu, que nos apertar no banco de trás com as malas que não couberam em cima. Depois de equilibrado o entulho (acho que esse é o nome mais apropriado), papai enrolava uma lona amarela em caso de pegarmos chuva no caminho. Mamãe acordava 15 minutos mais cedo e preparava bisnaguinhas para irmos comendo durante o percurso. Estava escuro ainda quando a família Buscapé partia.
Engraçado que me lembro de muitas coisas da minha vida, inclusive, histórias muito mais interessantes sobre minha infância. Mas devo reconhecer, a Brasília cor-de-caganeira marcou época.

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